BBF estreia no mercado de debêntures com tese ligada à energia ‘verde’

5min
Empresa de bioenergia levanta R$ 133 milhões para avançar com a operação de termelétricas movidas a biocombustíveis em Roraima
08 fevereiro, 2023

A Brasil BioFuels (BBF) fez sua estreia no mercado de emissão de dívidas neste início de ano, o que lhe permite dar tração à tese de energia limpa junto aos investidores. A BBF, que atua na produção de óleo de palma no Norte do país, captou R$ 133,4 milhões em debêntures para finalizar a instalação de usinas termelétricas destinadas à geração de energia renovável em Roraima.

A empresa atua em uma região que carece de infraestrutura energética robusta. Vale lembrar que existem cerca de 212 localidades no Brasil que não fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia, sendo a maior parte delas no Norte. Entre as capitais, Boa Vista (RR) é a única que ainda é atendida pelo chamado “sistema isolado”.

Na prática, isso significa que essas áreas não conseguem ser atendidas pelas grandes usinas hidrelétricas e eólicas do país. A geração de energia é feita por centenas de usinas termelétricas regionais que utilizam, na sua maioria, o óleo diesel como fonte, gerando emissões de enxofre e CO2 na atmosfera.

“Nossa operação se diferencia por isso. Conseguimos uma oferta firme de energia limpa e sem risco logístico, como ocorre no diesel fóssil, porque nossa produção é toda localizada na região”, afirma Milton Steagall, CEO da BBF.

Geração ‘verde’

No modelo proposto pela BBF, as fontes de geração de energia são os biocombustíveis à base de palma (ou dendê), que podem reduzir a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE) em cerca de 60%. O biocombustível à base de dendê é mais efetivo neste quesito que o de soja, que é o mais produzido no Brasil.

Além disso, a debênture permitirá que mais usinas da companhia sejam híbridas, que são aquelas que utilizam tanto óleo vegetal como a biomassa da palma para geração de energia. Atualmente, a companhia possui duas dessas em Roraima, com a previsão de outras duas.

“Isso nos traz uma segurança energética, uma vez que uma fonte serve de backup para a outra”, argumenta o CEO. Outra vantagem listada pelo executivo é que a palma é uma cultura perene, ou seja, dá o ano todo. Isso a diferencia da produção de outros biocombustíveis, como o biodiesel feito de óleo de soja e o etanol à base de cana ou milho.

Mercado de capitais

Esta é apenas a segunda incursão da BBF, que foi fundada em 2008, no mercado de capitais brasileiro. Antes, a empresa havia obtido cerca de R$ 55 milhões junto a um Fiagro. Steagall lembra que há ainda muita resistência de investidores e profissionais do mercado financeiro sobre a operação, especialmente por não ser integrada ao sistema nacional.

“Nosso negócio não tem a mesma obviedade de uma empresa que está no SIN. Os bancos enxergam maior risco na nossa operação e pedem mais informações”, afirma Milton Steagall. “Havia pouca disposição do mercado de entender nosso negócio, mas vejo que isso mudou, agora existe menos resistência”, avalia o executivo.

Com a primeira emissão de debênture consolidada, o CEO acredita que a tese ganha fôlego para buscar novos investimentos. Neste sentido, também aponta o interesse do governo federal de apoiar iniciativas que tragam renda à região amazônica para conter o desmatamento da floresta.

“Cerca de 30 milhões de pessoas estão vivendo na Amazônia e precisam de uma fonte de renda para sobreviver. É uma região carente de emprego e nossa atividade pode criar essas vagas e ajudar no desenvolvimento da região”, defende Steagall.

Associada ao desmatamento de florestas tropicais na Ásia, a produção de palma tem regulamentação mais rígida no Brasil. Desde 2010, um decreto delimitou a área de cultivo da planta no país. Na Amazônia, ela só pode ser cultivada com o objetivo de recuperar áreas devastadas na região.

Steagall aponta um potencial 31 milhões de hectares que podem ser ocupados pela cultura. Atualmente, a BBF cultiva 68 mil hectares de palma no Norte, com produção de cerca de 200 mil toneladas por ano de óleo.

Parceria com a Vibra é o grande projeto

A empresa é produtora de biocombustíveis e biomassa a partir de de óleo de palma cultivada em plantio próprio, com operações no Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima e Pará. Atualmente, a BBF possui 25 usinas termelétricas em operação e outras 13 em fase de implementação na região Norte, que atendem atualmente cerca 140 mil consumidores.

Além disso, são mais três unidades de esmagamento de palma de óleo, uma extrusora de soja e uma indústria de biodiesel. Para justificar a tese “verde”, a empresa afirma que sua operação ajuda na retirada de mais de 106 milhões de litros de diesel fóssil anualmente.

Até o fim de 2025, a empresa pretende lançar seu maior projeto: a primeira biorrefinaria do país na Zona Franca de Manaus, para produção do Diesel Verde (HVO) e Combustível Sustentável de Aviação (SAF). Com investimento estimado em R$ 1,8 bilhão, a BBF possui acordo para comercializar toda a produção da fábrica para a Vibra Energia  por cinco anos, em um modelo conhecido como offtake.

Também em leilões de energia para os Sistemas Isolados, regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a BBF gera energia para diversas distribuidoras da região Norte, como a Equatorial.

imagem de planta industrial para produção de óleo de palma do grupo BBF

Notícias mais lidas