Adoção da palma para a produção de biocombustíveis pode ser uma alternativa como matriz energética em fontes renováveis, no centro dos debates mundiais. E o Pará tem potencial para o crescimento da produção.
12 junho, 2023
ilustração do biodiesel do grupo BBF, com a sua matéria prima, o dendê

Adoção de uma matriz energética predominantemente centrada em fontes renováveis e que gere menor impacto ambiental está entre as grandes preocupações vivenciadas em todo o mundo e, como não poderia deixar de ser, também na Amazônia. Diante do desafio, a solução para a substituição de combustíveis fósseis por alternativas que apresentem baixos índices de emissão de poluentes pode estar em uma cultura fortemente desenvolvida na Região Norte do país, a palma ou dendezeiro.

Já utilizada para a produção de biocombustíveis na região, a cultura da palma ainda apresenta um grande potencial de expansão, que pode possibilitar não só o crescimento da geração de energia limpa, mas também de empregos e renda para as comunidades locais.

Não é de hoje que o Brasil mantém uma atuação de relevância na geração de energia a partir de fontes renováveis, a exemplo da criação do Programa Nacional do Álcool (Pro-Álcool) ainda em 1975 e do consequente crescimento que a produção de etanol vêm apresentando no país ao longo das décadas que se seguiram. Apesar da tradição que faz com que o país mantenha uma participação de fontes renováveis de energia acima da média mundial, atualmente apenas 25% do combustível produzido no país vêm de fontes renováveis, conforme aponta o Ministério de Minas e Energia (MME). Cenário esse que pode ser transformado.

Para o CEO do Grupo BBF (Brasil BioFuels), empresa de soluções energéticas sustentáveis e maior produtora de óleo de palma da América Latina, Milton Steagall, o Brasil apresenta um grande potencial para o crescimento da produção de biocombustível a partir do óleo de palma, sem que, para isso, seja necessário derrubar mais nenhuma área de floresta. “O potencial do óleo de palma para a geração de biocombustível na Amazônia é enorme, visto que temos um verdadeiro ‘Pré-Sal Verde’ na região Amazônica com mais de 31 milhões de hectares aptos ao cultivo sustentável da palma de óleo”.

Milton explica que o cultivo da palma, ou dendezeiro, segue uma rígida legislação definida pelo Governo Federal no decreto 7.172/2010, o Zoneamento Agroecológico da Palma de Óleo. Segundo a legislação, a palma só pode ser cultivada em áreas que foram degradadas na região até dezembro de 2007.

“Atualmente, apenas cerca de 200 mil hectares estão cultivados na Amazônia. Há ainda muito potencial para crescer sem derrubar nenhuma árvore, pelo contrário, reflorestando áreas antes degradadas, gerando emprego e renda para a população. E desta maneira, desenvolver biocombustíveis e gerar energia limpa para os moradores que lá residem”.

Hoje, o Brasil utiliza a soja como matéria-prima em 70% da produção de biodiesel do país. Entretanto, a palma de óleo apresenta uma vantagem competitiva em relação à soja. “A grande vantagem da palma é que seu cultivo rende 10x mais tonelada de óleo por hectare, quando comparada com a soja, outra matéria-prima que também é muito utilizada na produção de biocombustíveis”, considera Milton Steagall, ao citar ainda outros benefícios da palma.

“Outro ponto de destaque, está relacionado ao estoque de carbono que a palma proporciona. O Grupo BBF possui mais de 75 mil hectares cultivados com a palma de óleo que estocam mais de 25 milhões de toneladas de carbono na Amazônia”.

AGRICULTURA FAMILIAR

Para além da eficiência e da contribuição ao meio ambiente, a cultura da palma também tem um papel importante na geração de emprego e renda para as comunidades locais. Como o plantio da palma não pode ser mecanizado, ele gera milhares de empregos em localidades remotas da região Amazônica, fortalecendo a agricultura familiar.

A exemplo dessa contribuição, somente no ano de 2022, os 414 agricultores que integram o Programa de Agricultura Familiar da BBF conquistaram uma produção recorde de 37 mil toneladas de frutos de dendê que foram comercializados para o Grupo BBF, garantindo uma receita de mais de R$ 30 milhões às famílias.

“Essas famílias, que vivem nas regiões de Tomé-Açu, Acará, Concórdia e Moju recebem todo o suporte do time do Grupo BBF para ampliar sua produção, incorporar novos processos e melhorar sua renda e qualidade de vida”, pontua Milton Steagall.

Para que a parceria dê certo, Milton explica que os agricultores familiares contam com permuta para compra de fertilizantes com preços acessíveis, assistência técnica com especialistas no cultivo de dendê, auxílio para crédito bancário, logística dos frutos para a indústria, estímulos à melhoria contínua e garantia de compra dos frutos a preços competitivos no mercado.

“Esse programa nos enche de orgulho porque vemos na prática como o cultivo da palma pode mudar vidas. Sem deixar de plantar alimentos como mandioca, milho e pimenta do reino, por exemplo, esses agricultores conseguem ter uma renda garantida com o dendê, que os permite melhorar a qualidade de vida de suas famílias”.

PARA ENTENDER:

Diante do enorme potencial do óleo de palma para a produção de biocombustíveis, inovações já vêm sendo colocadas em execução no Brasil. Ainda carente de soluções renováveis, o mercado de aviação deve ser o próximo beneficiado com o combustível produzido a partir do dendê. O CEO do Grupo BBF (Brasil BioFuels), Milton Steagall, aponta os primeiros passos para a produção desses novos biocombustíveis no país.

“Nossa previsão é que a produção do Combustível Sustentável de Aviação (SAF) e do Diesel Verde, também conhecido como Óleo Vegetal Hidrotratado (HVO), comece em 2026. A matéria-prima para os novos biocombustíveis será o óleo de palma produzido pelo Grupo BBF. Já o refino será feito em uma planta em construção na Zona Franca de Manaus (AM), que será a primeira biorrefinaria do País a produzir esses biocombustíveis em escala industrial”, adianta.

“Estamos otimistas e orgulhosos de o Brasil estar dando máxima atenção nesta agenda, promovendo desenvolvimento, geração de novos empregos e competição no setor de biocombustíveis. Não tenho dúvidas que o país será protagonista global e referência na nesse setor”.

 

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